Esta frase está muitas
vezes presente em conflitos familiares e conjugais e expressa os sentimentos de
dor de uma pessoa que sofreu um dano ou foi ferida por condutas de uma pessoa
próxima de quem esperava acolhimento e amor.
Quando somos feridos, temos de fato uma decisão bastante difícil
pela frente: perdoar ou manter a mágoa? Algumas pessoas dizem, com sinceridade,
que perdoam, mas não conseguem esquecer o evento que causou a dor, tampouco
conseguem relacionar-se novamente com quem lhes causou o dano e o sofrimento —
mesmo quando tal pessoa é o próprio cônjuge.
Aqui está um erro comum na interpretação do significado do
perdão — “perdoar significa esquecer”. Nossa memória é o mais poderoso HD que
existe e nenhuma de nossas experiências nela gravadas é apagada, salvo por
alguma doença ou traumatismo. Muitas coisas podem ficar escondidas em cantos
remotos da memória e serem de difícil acesso, especialmente quando acumulamos
experiências, mas jamais são apagadas e com algum esforço podem ser acessadas.
Então, se perdoar não significa esquecer, o que realmente é
perdoar? Talvez a minha resposta não seja muito “teológica”, mas perdoar é
livrar-se da compulsão neurótica da repetição. Explico melhor: enquanto não
perdoamos o dano que sofremos, a nossa tendência é ficar repetindo para nós
mesmos o que o outro nos fez, que não merecíamos isso (especialmente nos casos
de traição conjugal), que aquilo que sofremos dói demais, que somos infelizes
pelo dano que sofremos etc. Essa repetição contínua — para nós mesmos ou para
os que nos rodeiam — é uma espécie de neurose. Livrarmo-nos disso é sempre um
sinal de saúde emocional.
Sendo assim, o perdão é o caminho que Deus nos oferece para nos
livrarmos da compulsão neurótica da rememoração do dano e da dor sofridos.
Perdoar é poder escolher de novo. É reconhecer que os outros não são responsáveis
por nossa infelicidade. Entretanto, esse não é um caminho simples. Existem
alguns aspectos que precisam ser observados no processo de perdão.
Em primeiro lugar, precisamos entender que o perdão é algo que
fazemos em benefício próprio. Por quê? Quando eu posso, de forma honesta e
sincera, dizer: “Fui ferido, fui magoado, não merecia isso, mas aconteceu e
agora quero parar de repetir isso e decido perdoar o outro”, então passo para
uma nova dimensão — a da liberdade que posso experimentar.
Todavia, somos relutantes em perdoar porque, em segundo lugar,
perdoar é arriscar-se a ser ferido novamente. E se o outro fizer de novo? Vou
passar por idiota? Como vai ficar minha autoestima? É preciso correr esse risco
se queremos gozar de saúde emocional. Creio que seja por esse motivo que Jesus
nos incentiva a perdoar 70 x 7 — por “nossa” saúde emocional.
Por fim, o perdão nos leva à participação na comunicação
trinitária, pois abre a possibilidade de criar o “novo”. O perdão conduz a
pessoa a um novo âmbito relacional, reafirmando a coparticipação na vida —
somos membros uns dos outros e isso nos constitui em um novo modelo de família.
O perdão é a reintegração do filho que estava longe na busca de perversões
oferecidas em outra região, mas que volta a si (estava fora de si — louco) e
regressa para a casa do pai.
Neste sentido, o exercício do perdão produz uma reestruturação
familiar inclusiva — um “emparentamento”, fazendo do outro um parente, irmão em
Cristo. Este é o ministério da reconciliação a que somos chamados (2Co 5).
Carlos “Catito” e Dagmar – Ultimato
http://www.lagoinha.com
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